A BATALHA CONTRA A CORRUPÇÃO NO BRASIL: UMA PERSPECTIVA PSICOLÓGICA

THE WAR ON CORRUPTION IN BRAZIL: A PSYCOLOGICAL PERSPECTIVE

Camila Souza Novaes


Resumo

O fenômeno da corrupção é um tema de atualidade indiscutível, entretanto poucos psicólogos escreveram de maneira aprofundada sobre o assunto. A análise subjetiva da corrupção parece quase ignorada, de modo que relevantes questões psicológicas subjacentes ao fenômeno permanecem sem resposta. Além de um problema político, jurídico e socioeconômico, o que seria a corrupção sob o ponto de vista do inconsciente? Distintas características da constituição psicocultural histórica dos brasileiros podem estar influenciando o fenômeno da corrupção. A falta de confiança na própria população brasileira e nas suas instituições desestimula a luta por um bem comum e dificulta o processo coletivo de desenvolvimento de conscientização política. Através da Operação Lava Jato, está sendo travada uma batalha de processos judiciais entre “heróis da justiça” e “vilões corruptos”, porém o cidadão comum ainda parece alheio à sua responsabilidade. Fundamentado na perspectiva da psicologia analítica, este artigo tem como objetivo descrever o comportamento do indivíduo corrupto e as causas da corrupção no Brasil. Mais especificamente, analisa-se a Operação Lava Jato, seus atores e o papel da mídia em relação ao arquétipo do herói e o desenvolvimento da consciência política dos brasileiros. 


Palavras-chave: 

Corrupção. Psicologia analítica. Comportamento corrupto. Operação Lava Jato. Heróis.


Texto completo:

PDF


Referências

AGÊNCIA BRASIL. Lava Jato completa três anos de investigações com 260 acusados criminalmente. Agência Brasil, 17 mar. 2017. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2017-03/lava-jato-completa-tres-anos-de-investigacoes-com-260-acusados>. Acesso em: maio 2018.


ALMEIDA, A. C. D. A Cabeça do Brasileiro. 7. ed. Rio de Janeiro: Record, 2014.


AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders: DSM-V. 5. ed. Arlington: American Psychiatric Association, 2013.


ARISTOTLE. Politics. Indianapolis: Hackett Publishing Company, 1998.


AVELINO, G.; BARBERIA, L. G.; BIDERMAN, C. Governance in managing public health resources in Brazilian municipalities. Health Policy and Planning, v. 29, p. 694-702, 2014.


BARROS FILHO, C. D.; PRAÇA, S. Corrupção: parceria degenerativa. Campinas: Papirus 7 Mares, 2014.


BARROSO, L. R. Ética e jeitinho brasileiro: por que a gente é assim? Brazil Conference. Boston: [s.n.]. 2017.


BECKER, D.; FERRARI, I. A prática jurídica em tempos exponenciais: a tecnologia chegou no Direito para ficar. JOTA, 4 out. 2017. Disponível em: <https://jota.info/artigos/a-pratica-juridica-em-tempos-exponenciais-04102017#_ftn21>. Acesso em: 5 out. 2017.


BOECHAT, W. A alma brasileira: luzes e sombra. Petrópolis: Vozes, 2014.


BRANDÃO, J. D. S. Mitologia Grega. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 1987. v. 3 


BRASIL. Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União. Redes Sociais. Disponível em: <http://www.cgu.gov.br/redes>. Acesso em: 5 mar. 2016.


______. Ministério Público Federal. Car Wash Operation. Caso Lava Jato, 30 abr. 2017. Disponível em: <http://lavajato.mpf.mp.br>. Acesso em: 3 mar. 2018.


______. Tribunal Regional Federal (4ª região). 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba. Processo n. 5051606-23.2016.4.04.7000. Sentença prolatada por Sérgio F. Moro. Curitiba, 2017, p. 1-109.


______. Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União. Agentes Públicos e Agentes Políticos, 9 ago. 2018. Disponível em: <http://www.cgu.gov.br/sobre/perguntas-frequentes/atividade-disciplinar/agentes-publicos-e-agentes-politicos#2>. Acesso em: 10 ago. 2018.


BRIZA, D. H. R. A Mutilação da Alma Brasileira: um estudo arquetípico. São Paulo: Vetor, 2006.


BYINGTON, C. A. B. A identidade brasileira e o complexo de vira-lata: uma interpretação da psicologia simbólica junguiana. Junguiana, 31, n. 1, p. 71-80, jan-jun 2013.


CABRAL, M.; OLIVEIRA, R. O Príncipe: uma biografia não autorizada de Marcelo Odebrecht. Bauru: Astral Cultural, 2017.


CHEMIM, R. Mãos Limpas e Lava Jato: a corrupção se olha no espelho. Porto Alegre: CDG, 2017.


COLACICCHI, G. Jung and Ethics: a conceptual exploration (Unpublished doctoral dissertation). Colchester: University of Essex, 2015.


COOPER, A. Brazil’s “Operation Car Wash” involves billions in bribes, scores of politicians. CBSNEWS, 21 maio 2017. Disponível em: <https://www.cbsnews.com/news/brazil-operation-car-wash-involves-billions-in-bribes-scores-of-politicians/>. Acesso em: 2 out. 2017.


DALLAGNOL, D. A luta contra a corrupção: a Lava Jato e o futuro de um país marcado pela impunidade. Rio de Janeiro: Primeira Pessoa, 2017.


DAMATTA, R. Carnivals, Rogues, and Heroes: an Interpretation of Brazilian Dilemma. Notre Dame: University of Notre Dame Press, 1991.


DICIONÁRIO MICHAELIS. Michaelis: moderno dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998.


FERREIRA FILHO, M. G. A Corrupção como fenômeno social e político. Revista de Direito Administrativo, v. 185, n. 1, p. 1-18, 1991.


FRANCE. France Convention Nationale. Collection Générale des Décrets Rendus par la Convention Nationale. Paris: Chez Baudouin, 1793. v. 9.


FREUD, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 13.


GAMBINI, R.; DIAS, L. Outros 500: uma conversa sobre a alma brasileira. São Paulo: Senac, 1999.


GRAEFF, P.; SVENDSEN, G. T. Trust and corruption: the influence of positive and negative social capital on the economic development in the European Union. Quality & Quantity, v. 47, n. 5, p. 2829-2846, 2012.


HARE, R. D.; NEUMANN, C. S. Psychopathy and its measurement. In: CORR, P. J.; MATTHEWS, G. The Cambridge Handbook of Personality Psychology. Cambridge: Cambridge University Press, 2009.


HEIDENHEIMER, A. J. Perspectives on the perception of corruption. In: HEIDENHEIMER, A. J.; JOHNSTON, M. Political Corruption: concepts and contexts. 3. ed. [S.l.]: Transaction Publishers, 2009.


HOLANDA, S. B. D. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.


HOPCKE, R. H. A Guided Tour of the Collected Works of C.G. Jung. Boston: Shambhala, 1999.


HUNTINGTON, S. P. Modernization and Corruption. In: HUNTINGTON, S. P. Political Order in Changing Societies. New Haven and London: Yale University Press, 1973.


JENSEN, M. F. The Question of how Denmark got to be Denmark: Establishing Rule of Law and Fighting Corruption in the State of Denmark 1660-1900. QoG Working Paper Series, n. 6, p. 1-26, 2014.


JUNG, C. G. Presente e Futuro. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2011a. v. 10/1. 


______. Os arquétipos do inconsciente coletivo. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2011b. v. 9/1.


LEVINE, D. P. The Corrupt Organization. Human Relations, v. 6, n. 58, p. 723-740, Jun. 2005.


LITZCKE, S. et al. Korruption: Risikofaktor Mensch: Wahrnehmung – Rechtfertigung – Meldeverhalten. Wiesbaden: Springer VS, 2012.


LONDOÑO, E. A Judge’s Bid to Clean Up Brazil From the Bench. The New York Times, 25 ago. 2017. Disponível em: <https://www.nytimes.com/2017/08/25/world/americas/judge-sergio-moro-brazil-anti-corruption.html>. Acesso em: 2 out. 2017.


LOPEZ, F. G. Práticas corruptas, estratégias de combate e normas sociais. In: Ética Pública e Controle da Corrupção. Cadernos Adenauer, Rio de Janeiro, v. XII, n. 3, p. 35-56, nov. 2011.


LU, K. Can individual psychology explain social phenomena? An appraisal of the theory of cultural complexes. Psychoanalysis, Culture & Society, v. 14, n. 4, p. 386-404, 2013.


MACDONALD, P. Narcissism in the modern world. Psychodynamic Practice, v. 20, n. 20, p. 144–153, 2014.


MARTINS FILHO, I. G. D. S. O bélico e o lúdico no Direito e no Processo. Revista TST, v. 70, n. 2, p. 28-41, 2004.


MINERBO, M. A lógica da corrupção: um olhar psicanalítico. Novos Estudos, n. 79, p. 139-149, nov. 2007.


MORAIS, L. D. S.; TEIXEIRA, M. G. C. Interfaces da accountability na administração pública brasileira: análise de uma experiência da Auditoria Geral do Estado do Rio de Janeiro. Revista Eletrônica de Administração, Porto Alegre, v. 83, n. 1, p. 77-105, jan./abr. 2016.


NAÍM, M. 13 Sergio Moro. World’s Greates Leaders, 24 mar. 2016. Disponível em: <http://fortune.com/worlds-greatest-leaders/2016/sergio-moro-13/>. Acesso em: 6 out. 2017.


NOVAES, C. S. Corrupção no Brasil: uma visão da psicologia analítica. Revista Junguiana, v. 34, n. 2, p. 5-17, dez. 2016.


______. Towards a definiton of corruption from the perspective of analytical psychology. In: CARTA, S.; ADORISIO, A.; MERCURIO, R. The Analyst in the Polis. Rome: Streetlib, 2017.


ODAJNYK, V. W. Jung and politics: the political and social ideas of C. G. Jung. Lincoln: Authors Choice Press, 2007.


PAROSKI, V. Justificativas para os direitos dos magistrados: as férias anuais de 60 dias. Revista Jus Navigandi, Teresina, v. 15, n. 2498, 4 maio 2010.


PHILP, M. The Definition of Political Corruption. In: HEYWOOD, P. M. Routledge Handbook of Political Corruption. London and New York: Routledge, 2015.


PINHEIRO, L. B. Ficou caro ser corrupto? Como operações da PF e do MP estão mudando comportamento de empresas brasileiras. BBC Brasil, 7 dez. 2016.


Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/brasil-38208556>. Acesso em: 2 abr. 2017.


POWER, T. J.; TAYLOR, M. M. Corruption and Democracy in Brazil: The Struggle for Accountability. Notre Dame: University of Notre Dame, 2011.


RABL, T. Private Corruption and its Actors: Insights into the Subjective Decision Making Process. Lengerisch: Pabst Science Publishers, 2008.


RAMOS, D. G. Corruption: Symptom of a Cultural Complex in Brazil? In: SINGER, T.; KIMBLES, S. L. The Cultural Complex: Contemporary Jungian Perspectives on Psyche and Society. Hove and New York: Brunner-Routledge, 2004.


REDAÇÃO ESTADÃO. ‘A era dos nossos barões da corrupção está chegando ao fim’. Estadão, 3 out. 2017. Disponível em: <https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/a-era-dos-nossos-baroes-da-corrupcao-esta-chegando-ao-fim/>. Acesso em: maio 2018.


RIJSENBILT, A.; COMMANDEUR, H. Narcissus Enters the Courtroom: CEO Narcissism and Fraud. Journal of Business and Ethics, n. 117, p. 413-429, 2013.


ROSA, A. M. D. Para entender a lógica do juiz Moro na Lava Jato. Empório do Direito, 7 mar. 2015. Disponível em: <http://emporiododireito.com.br/leitura/para--entender-a-logica-do-juiz-moro-na-lava-jato>. Acesso em: set. 2018.


SAMUELS, A. A New Therapy for Politics? London: Karnac, 2015. 


______. Jung and the Post-Jungians. London: Taylor & Francis, 2005a.


______. Politics on the Couch. London: Profile Books, 2001.


SHARP, D. C. G. Jung Lexicon: A Primer of Terms & Concepts. Toronto: Inner City Books, 1991.


SINDICATO DOS ADVOGADOS DO ESTADO DE SP. Para Mídia e Justiça Eleitoral, Brasileiro não sabe votar. Sindicato dos Advogados do Estado de São Paulo, 2013. Disponível em: <http://www.sasp.org.br/convenios/100-para-midia-e-justica--eleitoral-brasileiro-nao-sabe-votar.html>. Acesso em: jun. 2018.


SOUZA, J. A Elite do Atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: Leya, 2017.


STEIN, M. The Principle of Individuation: Toward the Development of Human Consciousness. Wilmete: Chiron Publications, 2006.


STOCHERO, T. Moro diz que juiz é criticado por ter férias longas, mas também por trabalhar durante as férias, 25 jul. 2018. G1. Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2018/07/25/moro-diz-que-juiz-e-criticado-por-ter-ferias--longas-mas-tambem-por-trabalhar-no-recesso.ghtml>. Acesso em: 10 ago. 2018.


TRANSPARENCY INTERNATIONAL. Anti-Corruption Award Winner: Operation Car Wash Task Force: Prosecutors - Brazil. Transparency International, 2 dez. 2016. Disponível em: <http://www.transparency.org/getinvolved/awardwinner/operation_

car_wash_task_force>. Acesso em: 30 abr. 2017.


______. National Integrity System Assessment Denmark. Copenhagen, 2012.


______. The Anti-Corruption Plain Language Guide. Transparency International: The Global Coalition against Corruption, Jul. 2009. Disponível em: <https://www.transparency.org/whatwedo/publication/the_anti_corruption_plain_language_guide>. Acesso em: 9 abr. 2015.


UNITED STATES OF AMERICA. Criminal division of the U.S. department of justice and the enforcement division of the U.S. securities and exchange commission. A Resource Guide to the U.S. Foreign Corrupt Practices Act. The United States Department of Justice, 14 Nov. 2012. Disponível em: <https://www.justice.gov/criminal-fraud/foreign-corrupt-practices-act>. Acesso em: 5 maio 2018.


VON FRANZ, M. L. Shadow and Evil in Fairy Tales. Boulder: Shambhala Publications, 1995.


______. Foreword by Marie-Louise von Franz. In: ODAJNYK, V. W. Jung and politics: the political and social ideas of C. G. Jung. Lincoln: Authors Choice Press, 2007.


WALSH, B. Sergio Moro: cleaning up corruption. The 100 Most Influential People, 21 abr. 2016. Disponível em: <http://time.com/collection-post/4302096/sergio-moro-2016-time-100/>. Acesso em: 6 out. 2017.


WATTS, J. Brazil’s anti-corruption prosecutor: graft is ‘endemic. It has spread like cancer’. The Guardian, 30 dez. 2015. Disponível em: <https://www.theguardian.com/world/2015/dec/30/brazil-anti-corruption-prosecutor-deltan-dallagnol-lava-jato-investigation>. Acesso em: 30 abr. 2017.


WEBER, M. Economy and Society: an Outline of Interpretative Sociology. Berkeley and Los Angeles: University of California Press, 1978.


______. From Max Weber: Essays in Sociology. New York: Oxford University Press, 1946.


WHITE, M. D. (Ed.). Watchmen and philosophy: a Rorschach test. Hoboken: John Wiley & Sons, 2009.


WORLD BANK. Helping Countries Combat Corruption: The Role of the World Bank. The World Bank Group, Sept. 1997. Disponível em: <http://www1.worldbank.org/publicsector/anticorrupt/corruptn/corrptn.pdf>. Acesso em: 9 abr. 2015.


WORLD HEALTH ORGANIZATION. 6D11.2 Dissociality in personality disorder or personality difficulty. ICD-11 for Mortality and Morbidity Statistics, 18 jun. 2018. Disponível em: <https://icd.who.int/browse11/l-m/en#/http%3a%2f%2fid.who.int% 2ficd%2fentity%2f1913158855>. Acesso em: 16 set. 2018.

Última atualização: sexta, 18 Dez 2020, 11:45